segunda-feira, 28 de setembro de 2020

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Como avaliar a escrito do meu aluno a distância?

Mesmo em um contexto de ensino remoto emergencial é possível fazer uma sondagem e ver se sua turma avançou

POR:
Mara Mansani
Criança escrevendo as letras do alfabeto usando canetinhas coloridas. Foto: Getty Image

“É para escrever do jeito dele?”. Esse foi o questionamento da mãe de um aluno durante o ensino remoto e ele me traz muitas reflexões e perguntas também: como andam as escritas dos nossos alunos, na alfabetização, nesse momento de ensino a distância? Como avaliar agora essa escrita?

Vários professores que tenho contato e venho acompanhando em diferentes regiões do país, trazem essa preocupação de como ter um retrato, um panorama real da escrita dos alunos. Bom, primeiro precisamos ter claro que no ensino remoto o processo de alfabetização não é o mesmo comparado ao que é desenvolvido em sala de aula presencial.

Não é uma alfabetização propriamente dita, pois falta pontos essenciais para esse processo: as interações entre alunos, a mediação e intervenção do professor. Como já disse anteriormente, “pais não são professores” e a responsabilidade pela alfabetização é nossa, como alfabetizadores, e de nossas redes de ensino. Porém, isso não significa que nossas crianças não possam ter avançado em sua aprendizagem durante o  estudo acompanhado pelos pais e responsáveis.

E, sim, houve aprendizagem! Crianças avançaram em sua hipótese de escrita. Isso nos mostra, inclusive, a importância da continuidade dos estudos no contexto familiar, da criação de uma rotina, onde as práticas de linguagem, oralidade, escrita e leitura, continuam a ser exploradas com apoio e orientação dos professores alfabetizadores em parceria com as famílias.

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Logicamente que isso não aconteceu com todos os alunos. Muitas crianças, por motivos diversos, não tiveram acesso ao estudo remoto ou tiveram mas não foi o suficiente para que aprendessem. E quando falamos em alfabetização ela precisa ser sempre atrelada com as palavras “para todos”, nenhum para trás, ou seja, temos muito ainda o que fazer para alfabetizar a todos.

Nesse sentido, ampliando meu entendimento nesse tópico, não precisamos esperar uma possível volta para o ensino presencial para realizar esse importante diagnóstico da alfabetização dos nossos alunos. Isso vai guiar nossas ações nesse momento de ensino remoto e quando voltarmos as nossas escolas. Podemos começar desde já, como as redes de ensino em que trabalho vem fazendo e tantas outras redes Brasil afora, como a de Coruripe (AL), Crateús (CE).

Como fazer a avaliação do aluno a distância?
A nossa compreensão deve ser que a avaliação é um processo, não estanque para um momento apenas, deve acontecer durante todo o processo de desenvolvimento da aprendizagem, levando em conta todos os elementos que a compõe.

Mas na prática nós, professores alfabetizadores, para avaliar a escrita do aluno precisamos ter um olhar e atenção específica e individualizada, que nesse momento é mais complexo e leva mais tempo, pois precisamos usar as tecnologias digitais.

Para essa “sondagem virtual”, podemos usar desde uma chamada de vídeo via WhatsApp, como também outros aplicativos que as famílias tenham acesso. Para que tudo funcione da melhor maneira possível, explique aos pais e ou responsáveis para que compreendam o objetivo desse instrumento de avaliação e também para que não haja interferências que possam alterar resultados.

Organize a aplicação da sondagem
Primeiro, escolhas as palavras adequadas para a escrita e marque antecipadamente o horário com a família. Explique tudo sobre a aplicação para a criança e aos pais ou responsáveis.

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Durante a sondagem, reserve um tempo para um bate-papo com a criança e crie um ambiente, mesmo virtual, tranquilo para a escrita. É importante ter paciência com o aluno e sua família.  

Crie alternativas que possam ser utilizadas caso haja algum problema de ordem tecnológica. Se possível grave em vídeo, pelo menos algumas aplicações da sondagem, porque além de ser um documento de registro pode servir como forma de qualificar a própria avaliação como um todo.

Muitos alunos, meus e de outras turmas de meus colegas professores alfabetizadores, avançaram na hipótese de escrita durante esse período de ensino no contexto familiar. Como disseram algumas dessas crianças: “sabia que eu estou quase lendo?”, “prô, já sei escrever um monte de palavras!” e “escrevi tudo direitinho!”.

Mas apesar de muitos avanços ainda há muito o que desenvolver em alfabetização, pois muitas crianças nem sequer estudaram nesse período. Então, seja no remoto ou presencial, quando for possível, vamos alfabetizar a todos!

Se você, professor alfabetizador, tem uma boa prática avaliativa, compartilhe aqui nos comentários. Se ainda não fez , converse com seus pares, com sua rede de ensino e comece o quanto antes. Também cobre de sua rede um planejamento para o diagnóstico da alfabetização para a retomada dos estudos presenciais quando possível, mas dê sua contribuição na construção desse documento norteador para a aprendizagem de todos.

Um grande abraço e até a próxima,
Mara

Mara Mansani é professora há quase 30 anos, lecionou em vários segmentos, da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, passando também pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2006, teve dois projetos de Educação Ambiental para o Ensino Básico publicados pela ONG WWF, no livro “Muda o Mundo, Raimundo”. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, na área de Alfabetização, com o projeto Escrevendo com Lengalenga.